terça-feira, 23 de novembro de 2010

Daemon

"It’s show time"
Sobe ao palco
Chapéu mais baixo
Olhos na multidão
Sapatos lustrados
Sorriso no rosto
Cigarro nos dedos
Malícia e paixão
Luxúria nas veias
Perfume na pele
Sensualidade
Imaginação
Passos marcados
Ou improvisados
No show dedicado
É inspiração
Magia nos toques
Na voz envolvente
No riso sincero
De coração
O tom de mistério
Carisma evidente
É graça, loucura.
É sedução
Finda a música
Abre-se o sorriso
Piscam-se os olhos
Ali não está mais
Ficam as marcas
Deixa lembranças
Saudade e vontade
Do show que ele faz
Some na noite
Brinca com a vida
Qual linda ilusão
Que o sol desfaz
Volta com as sombras
No findar do dia
Pra deixar sempre essa sensação de quero mais...


Mas poucos conhecem
Por trás desta máscara
Os velhos conceitos que a tristeza trás
Poucos entendem
No brilho dos olhos
O caminho torto que o teu rastro faz
Os fogos escondem
no escuro da noite
o brilho vermelho da sua razão
Perdida no tempo
Tragada nos passos
de uma loucura sem direção
As ilusões que mostras
no teatro que encenas
São sombras daquilo que querias ser
Desejo que um dia
A vida se torne
Aquilo que realmente queres viver

Seja feliz, Daemon meu caro. Seja muito feliz.
E que o mundo leve teus passos pra bons lugares. Ótimos lugares...

Longe de mim.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Pensamentos avulsos

Meus pés caminham entre os detritos dessa juventude deturpada, procurando um só pedaço de chão que não esteja coberto de podridão e desventuras.
Evito tocar as paredes: quase sempre estão cobertas por coisas demais pra um sistema imunológico dar conta sozinho.
Pelos cantos, os restos do que já foram seres humanos agonizam em risadas histéricas sem nenhum humor. Paranóias... Vícios de um lugar de onde as virtudes fugiram a léguas.
Tenho nojo dos lugares onde piso. De cada um deles. Fugiria daqui se não fosse, ironicamente, parte dessa raça suja que chamamos de humanidade - apenas por vias de apelido, já que a essência do que era humano perdeu-se incontáveis intervalos de tempo atrás.
Intervalos...
É uma dádiva que possamos contar ainda com intervalos de tempo, já que as medidas foram há muito reduzidas ao mero "não tenho tempo" e de tanto querer tempo, gastamos todo nosso tempo tentando produzir o tempo que não temos.
E nunca teremos.
Eu vejo o tempo passar, se arrastando entre as vielas, becos, buracos... Escorrendo pelos menores vãos entre os dedos dos que tentam desesperadamente segurá-lo entre todos os tipos de procedimentos dos mais absurdos...
Pra fingir que ainda têm algum tempo.
Mas é fato que este mundo de valas negras, línguas pútridas e deturpações está em dias contados.
A água, sangue da terra, já se converte no ácido que destrói os solos, corrompendo por si mesmo o organismo vivo que matamos aos poucos numa doentia corrida por mais e mais do ter...
Cobramos mais pela consciência... Preservar é um crime cuja punição é um pouco mais dos poucos centavos que ainda conseguimos guardar para nós mesmos.
Em cada lugar a felicidade é vendida em latas, comprimidos, garrafas ou cilíndros de tabaco misturado a todo tipo de solventes e produtos químicos que o tornem mais barato pra criar e mais caro pra vender.
Felicidade fake em gotas, encontradas em qualquer bar de esquina que tenha uma ou duas doses a mais...
Sentimentos são coisas sutilmente hackeadas pela mídia... A superfícialidade de uma bela capa compensa a falta violenta de conteúdo que agride aos ouvidos de quem mantém os olhos abertos durante um beijo pra ter certeza de que ainda está beijando uma casca bonita.
Houve um massacre da inteligência em detrimento de uma histeria coletiva por beleza, riqueza e outros tantos -eza que nos tornariam tão melhores.. Tão mais...
E que no fundo só nos fazem essa raça imunda cujo fedor alcança as alturas em tubos de núvens negras, cobrindo o sol, destruindo o ozônio... Escondendo a luz do dia e transformando a chuva em sutis gotas de morte vindas do céu.
Essa raça doente, débil e parasita que funciona como um câncer consumindo o planeta... Um tumor...
Um aglomerado de vírus que se dizem mamíferos e se auto proclamam senhores de lugar nenhum, achando que são grandiosos só por serem capazes de converter tudo o que vêem em um progresso de obssolescência programada que se transforma em lixo em ciclos de tempo cada vez mais curtos.
Caminhamos para a morte desde o momento em que nascemos e a cada passo aceleramos mais e mais nosso processo, encurtando a estrada pra extinção e carregando tudo o que nos cerca conosco rumo ao buraco negro da destruição que nosso próprio egoísmo prossegue criando.
Eu passo em meio a toda essa escuridão, reconhecendo as minhas origens e rezando pra um Deus que não existe na esperança que alguém escute minhas preces...

Na esperança que alguém me livre de mim.