segunda-feira, 1 de junho de 2020

Nosso tempo

Gentileza gera gentileza
Dizia o poeta 
em termos pintados nos muros
nas pontes no meio das ruas
mas longe dos corações
o concreto e a tinta se apagam
debaixo da poeira alta 
dos coflitos inacabados
Gerações passam
como os carros na estrada 
esquecendo os ensinamentos do poeta
que continua perdido no tempo
no esquecimento
de suas palavras sábias 
que ecoam perdidas no vento
enquanto o pensamento dos tolos
ainda se foca no atraso 
nas contas
nos votos errados
nas propagandas
tantas vezes repetidas
com palavras roubadas de poetas
e essências perdidas
Gentileza gera gentileza
E talvez por isso estejamos hostis
na falta de pessoas gentis
a gentileza em extinção.

domingo, 31 de maio de 2020

Como faz?

Como faz pra ficar burro outra vez?
Como faz pra esquecer o que aprendeu?
A ignorância é uma bênção, se diz
A graça que se perde, não volta. 
Não existe botão de desver
Não tem função de rebobinar o tempo
Não dá pra andar pra trás no conhecimento
Cola feito cimento na cabeça
Edifica os tijolos da mente
Derruba muros da frente dos olhos
Abre as janelas do pensamento
E a porta do peito.
A porta do peito.
A porta que queríamos reforçar, 
Tornar de titânio e trancar
Pra proteger o coração que se joga pra fora
Que quer brigar junto
Que chora
Com Ágathas, Joãos, Georges
Com tanta injustiça em acordes
De uma sinfonia maldita que os ouvidos não queriam ouvir
Coração se estraçalha na inércia daqueles que deviam intervir
E a gente sangra a incerteza do porvir
A dor dos que se foram
O medo pelos meus
A agonia do passado se reconstruindo
E a vida indo pra um lado sombrio
Sem que as mãos possam agarrar esse coração assustado
E jogá-lo de volta pra segurança de dentro.
Uma vez que se sabe, se perde o alento.
Como faz pra ficar calado?
Como faz pra fechar os olhos?
Como dribla a vontade insana de se esconder num canto
e fingir em pranto
que nada aconteceu?